segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Melhor de todos

O melhor presente de todos é um livro. Quer me ver feliz? me dê um livro.

Livros devem ser mantidos sempre ao nosso lado, abertos ou fechados. Abertos, revelam segredos que só a proximidade pode revelar. Segredos íntimos que, naquele momento, só nós sabemos.

Abertos, possuem páginas em branco, prontas para serem escritas e margens, prontas para serem rabiscadas. Prontas para receberem a nossa marca, prontas para serem alteradas para sempre por estarem nas nossas mãos. Livros podem estar além da nossa maturidade. podem se revelar só depois de vários anos...

Fechados escondem segredos e histórias. Mas têm belas capas e encadernações que admiramos. Essas capas escondem os risos e choros que lá dentro estão. Essas capas, porém, são belas e nos convidam a abri-las e correr o risco de viver tudo que lá dentro se esconde.

Penso, afinal, que livros parecem pessoas. Muito mais do que imaginamos.

Quer me ver feliz? me dê um livro.


"Nos deram espelhos e vimos um mundo doente"

sábado, 28 de novembro de 2009

Em fatias

Ato 2

Caminhava, descendo, há poucos metros do meu destino, ouvi:
- Ei! você!
Ignorei. Não deve ser comigo. E ser for, não vou parar.
- Espera! Quero falar com você!
Parei e me virei. Vinha um homem de camisa de mangas curtas, bermuda e chinelo aberto. Um pouco mais alto que eu.
- Você tem algum dinheiro? Preciso pegar um ônibus pra voltar pra casa.
- Não tenho nada...
- Sabe? Hoje quase fui atropelado na minha moto. Um maluco me fechou com o carro. Eu não sou pobre, olha só...
E tirou um celular desses modernos que tem mais funções que qualquer ser humano normal seria capaz de usar com frequência. E continuou:
- Perdi todo o meu dinheiro hoje. Minha namorada tá com a menstruação atrasada, to com medo de ela tá grávida...
- Isso seria um problema
- Claro. Aquela mulher tá me enganando. Descobri que ela tá com um cara aí. É capaz do filho nem ser meu.

A conversa se desenrolou por uns 20 ou 30 minutos mais. No fim, dei o dinheiro...
- Valeu muito, cara. você mora aqui?
- Bem ali adiante.
- Eu vou voltar aqui pra te pagar esse dinheiro amanhã mesmo.
- Não se preocupa, vai cuidar da sua moto quebrada.
- Com certeza que vou. Obrigado. A propósito, meu nome é Jean.
- De nada. E eu sou Felipe.
- Falou, Felipe, valeu.

Me virei e terminei meu caminho. Pensamentos precisam ganhar voz e vidas precisa ser ouvidas, afinal.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Em fatias

Ato 1

Por certo não tenho a poesia pura que a sua sensibilidade tem. Também não tenho a beleza única e indescritível que você tem, no alto da sua imperfeição. O que tenho são pensamentos. Pensamentos que precisam ser revelados...

Mais este pensamento foi interrompido, naquela noite em que chorei. Chorei lágrimas como toda pessoa, mas meu coração sangrava por ter que se encarar de maneira tão dura. Havia sido uma estrela à noite, havia sido como sonhei, afinal. Mas chorava...

O choro persiste. Não mais externo, visível. Sinto que os dias chegam e passam. Com eles passam coisas que não sei dizer, mas que já me fazem falta. O que fazer?

"Corou um pouco e continuou em seguida:
- Se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar entre milhões e milhões de estrelas, isso basta para que seja feliz enquanto a contempla. Ele pensa: minha flor está lá, nalgum lugar..."

O tempo passa. E saberei o que preciso saber. Andarei com minhas próprias pernas, e te levarei comigo enquanto você quiser vir.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Na tua mão

Encontraram-se, trinta anos depois, numa festa. Ela sorriu e disse: "Como vai?"
- Vocês já se conhecem? -Perguntou a dona da casa.

Ele não disse: "Nós nos conhecemos. No sentido bíblico, inclusive. Foi o amor da minha vida. quase me matei por ela. Sou capaz de morrer agora. Ah vida, vida".

Disse:
- Já.
- Faz horas, né? -Disse ela.
Sentou-se ao lado dela. Estava emocionado. Mal conseguia dizer:
- Trinta anos...


Veríssimo


"O teu futuro é duvidoso
Eu vejo grana, eu vejo dor...
Num paraíso perigoso
Que a palma da tua mão mostrou
Me avise quando for embora..."

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Capacidade

Não tenho nada a dizer
Nada a fazer
A não ser o que não quero.

Por teimosia, não quero
Por egoísmo, não quero
Pelo cansaço
Pelo esforço

Pelo sofrimento inevitável, não quero.


"pensar sim e dizer não
quanto mais perto, mais distante do que sou"

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

B A I L A R I N A

Bailarina

O seu corpo tão decente quanto nú
Chega, enfim
Aos braços meus
E eu sei que você ao se deixar tocar
Me dará o prazer
De ser um mortal

Imortal

De ser um mortal
Capaz de amar
Você


Arnaldo Baptista

Pregador de roupas


Pombos são criaturas inseridas num contexto sócio-histórico específico contemporâneo. Por esse motivo, são limitados à norteadores de conduta específicos deste momento e tão complexos quanto qualquer outro grupo. A definição do conceito de pombo é, sem dúvidas, de grande complexidade e necessitaria de grande esforço teórico-metodológico que não é, a princípio, os objetivos deste texto. Portanto, limito-me a analisar os indivíduos aos quais se refere o termo proveniente de estudos biológicos Columba Palumbus.

Sem dúvida, a conduta dos indivíduos acima definidos segue o paradigma pós moderno da predominância da ação instrumentalizadora racional. O ato de dormir, por exemplo, em observações de campo, se mostrou presente apenas quando não há mais pipocas pelo chão. Isto é uma demostração do cálculo racional de perda e ganho de energia vital em função da disponibilidade de alimentação.

A reprodução é ditada pela predominância esmagadora de fêmeas em relação ao número de machos. Durante o choco dos ovos, há a ação premeditada de indução ao nascimento de fêmeas que são mais ágeis na toma de decisões, além de serem mais leves para o vôo e na caça. Portanto, a conduta tomada pelos indivíduos é ditada pela instrumentalização da ação com um fim de responder à uma situação de liquidez pós moderna, garantindo a reprodução da estrutura característica do campo emplumado.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Vítimas

Da nossa imperfeição
Da passionalidade teimosa
Da racionalidade temerosa

Você é de mim
Sou sou de você
Dos amores mútuos
Amores correspondidos
Amores interrompidos
Das vontades secretas
E das públicas também

Dos carros que andam na rodovia
Dos que ficam parados na cidade
Do telefone que tocou
E do que silenciou também

Das palavras
Escritas, faladas, cantadas, gritadas e não ditas
Apenas pensadas.

Das ações e das emoções. Das frustrações proibidas.
Das conversas inventadas e das perguntas sem destino

Da nossa fatalidade
Nosso pessimismo
Nossos clichês
Falsos moralismos
Falsos heroísmos
E os verdadeiros também...
...até aqueles que ninguém viu

Eu sou abençoado


"De que tienes miedo?
A reir y a llorar luego
A romper el hielo
Que recuebres tu silencio
Grita!"

domingo, 15 de novembro de 2009

Fluxo

O silêncio ás vezes diz muito mais que palavras.

Eu já sei lá no fundo que deveria saber, mesmo sem dizer o que.

E eu perdi o que jamais tive.


"Y no me sonrojo se te digo que te quiero."

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Sintonia

-eu vou ser feliz.
-me convida pra sua felicidade.
-você tem coragem?
-...

A resposta que ainda não veio me disse pra atravessar a ponte. Atravessei e deixei atrás de mim uma perda que eu mesmo não conheço de fato. Quem sabe um dia?


"Tu habias sido, sin dudarlo, la mas bella dentre todas las estrellas que yo ví en el firmamento."

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Sim, eu sou capaz

Me preparei durante muito tempo. Muito tempo. Me firmei finalmente, agora não existem mais pesos insuportáveis pra levar, pra me impedir, enfim. E me deu um trabalho absurdo me livrar deles...

Agora nem olho mais pra eles, eles ficaram no passado, que é o lugar deles. Minha leveza agora me acompanha e o alívio veio junto. E a hora chegou. Saí das sombras, a noite chuvosa e solitária se acaba, deixo o submundo obscuro que eu mesmo construí...

Firmei as bases, olhei pra cima. O céu me espera, afinal. Levantei vôo, suave, com calma. No início o espaço me assustou. Antes não me movia, preso. Agora tenho espaço de sobra...o que fazer?

Simples: aproveitar.

"- Bem vindo ao meu mundo, onde as pessoas não andam, flutuam!"

Passei a brincar com nuvens, a voar e ver...e lá de cima vi como somos pequenos. Vi a imensidão das coisas que não vemos quando acorrentados estamos. Tomando velocidade...lagos rios e mares...cidades. Florestas e montanhas. Simples? Não. Lindo, sim. Bastante...o espaço vazio se torna liberdade. De movimento. De pensamento. De ação. Ou simplesmente de contemplação.

Flutuando, olhei para os lados. Outros estavam lá. Não eram rostos impassíveis como aqueles do corredor...e nem distraídos no seu egoísmo como os donos dos copos...não eram a dúvida encarnada e nem eram o vazio das trevas noturnas...

Brilhavam.

- Deixei de ver vultos pra ver luzes?

Parece que sim. Flutuavam e me viam, alegres por eu estar ali. Sorriam e me convidavam para brincar com eles. Nunca havia esperimentado algo igual. É assim que se sentem as pessoas quando são amadas? deve ser...mas nunca me viram, como pode ser possível?

Percebi que isso não fazia muito sentido. A luz torna as coisas tão lindas e puras que aqueles rostos um dia sombrios agora eram claros, leves, flutuantes como eu. O vento vinha e levava minhas dúvidas, levava o que restou daquilo que eu era antes.

Brinquei por um tempo que pareceu uma eternidade. Mas eu sei que não foi muito. Mas foi a maior de todas as felicidades. Voltei para o chão, que agora brilhava com o sol lá em cima, com aquele calor aconchegante. Olhando para os lados de novo, vi aquelas pessoas que brincavam comigo. Estavam ainda do meu lado, tinham descido comigo e queriam andar do meu lado. E essa foi, sem dúvida, a maior mudança de todas.

P.S. Texto originalmente publicado no dia 08/09/2009. Mas, também, continua a fazer sentido.

"Aceite as consequências do que acha que te faz melhor
Há urgência em estar vivo!"

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

5 minutos

Estava escuro. O vento frio entrava fortemente pela brecha na parede fazendo tilintar o metal da janela mais abaixo. Só podia ver parte do teto pelo feixe de luz da rua que criava uma sombra irregular.

Minha cabeça encostou na madeira e eu me abaixei um pouco. Apesar do frio e da escuridão quase total, tinha, ao meu lado, absolutamente tudo que desejaria ter em qualquer situação. Seja qual for.
Uma pequena ação foi suficiente pra fazer subir o calafrio por minha espinha.

- se acalme. Disse a mim mesmo em pensamento.
- como?
- você se despiu completamente da armadura solitária de outros tempos. Isso é um problema?
- talvez. não sei agir sem ela. não sei o que fazer com aquilo que não vinha até mim antes.
- se acalme.

Repeti mais algumas vezes. Não entendi o que se passava por dentro, por isso prefiro falar da escuridão e do vento do lado de fora...Me virei para um lado, mais um calafrio.

- preciso agradecer.
- quem se livrou da armadura foi você. Agradeça a si mesmo por isso.
- exatamente.

Por um momento, vi a cortina esvoaçar ao sabor de uma rajada súbita de vento. Mas não podia ver meu rosto no espelho. Ainda bem. Bendita escuridão. A armadura se foi, mas a sombra estava lá pra me proteger.

Por ironia do destino, a sombra não me protegia e sim me acolhia. De fato, tudo que eu poderia desejar na vida estava ao meu lado. E isso basta.


"O que me importa ver você chorando, se tantas vezes eu chorei também?
O que me importa a sua voz chamando se pra você jamais eu fui alguém?"

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Fato

Eu não gosto de jiló. E nem de rúcula, é amarga demais.
Gosto de arroz com feijão, uma boa pimenta e um bife com batata frita.

Não gosto de gente devagar demais, e nem rápida demais. Gosto de ritmo.
Gosto de música, mas não gosto de toda música.

Gosto do Flamengo, e gosto do Gama também. Gosto do Universo.

Gosto de gente, mas não gosto de toda gente. Gosto de alguma distância, mas não gosto de toda distância.

Gosto de ter minhas próprias idéias e gosto de trocá-las com outros. Gosto de manter pessoas perto de mim. Mas não gosto de todas as pessoas perto demais o tempo todo.

Gosto de alguma organização, gosto de ter calma. Gosto de fazer o que gosto e ás vezes o que não gosto também.

Gosto muito de mim. E gosto de você também.
Fato.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Endereço certo

Esse é pra você.

Que sempre esteve ao lado enquanto eu olhava pra frente apenas.

Que é a sinceridade que esperei. Que é um pouco de ansiedade também.
Falo sem meias palavras, sem metáforas.
É pra você mesmo.
Companhia e companheirismo. A perfeição pra mim que ás vezes custo à acreditar que existe.

Que às vezes custo à acreditar que mereço.

Se eu mereço, não sei. Mas eu sei que você merece. Merece tudo de melhor que a minha imperfeição pode dar, pode fazer.

Esse é pra você.


"Todo dia a insônia me convence que o céu faz tudo ficar infinito..."