segunda-feira, 9 de novembro de 2009

5 minutos

Estava escuro. O vento frio entrava fortemente pela brecha na parede fazendo tilintar o metal da janela mais abaixo. Só podia ver parte do teto pelo feixe de luz da rua que criava uma sombra irregular.

Minha cabeça encostou na madeira e eu me abaixei um pouco. Apesar do frio e da escuridão quase total, tinha, ao meu lado, absolutamente tudo que desejaria ter em qualquer situação. Seja qual for.
Uma pequena ação foi suficiente pra fazer subir o calafrio por minha espinha.

- se acalme. Disse a mim mesmo em pensamento.
- como?
- você se despiu completamente da armadura solitária de outros tempos. Isso é um problema?
- talvez. não sei agir sem ela. não sei o que fazer com aquilo que não vinha até mim antes.
- se acalme.

Repeti mais algumas vezes. Não entendi o que se passava por dentro, por isso prefiro falar da escuridão e do vento do lado de fora...Me virei para um lado, mais um calafrio.

- preciso agradecer.
- quem se livrou da armadura foi você. Agradeça a si mesmo por isso.
- exatamente.

Por um momento, vi a cortina esvoaçar ao sabor de uma rajada súbita de vento. Mas não podia ver meu rosto no espelho. Ainda bem. Bendita escuridão. A armadura se foi, mas a sombra estava lá pra me proteger.

Por ironia do destino, a sombra não me protegia e sim me acolhia. De fato, tudo que eu poderia desejar na vida estava ao meu lado. E isso basta.


"O que me importa ver você chorando, se tantas vezes eu chorei também?
O que me importa a sua voz chamando se pra você jamais eu fui alguém?"