quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Na outra faixa

Acelerei debaixo de muita chuva. Aquela água toda solapou meus pára-brisas como uma cortina cinza que se fechava bem na minha frente, à poucos centímetros.

Á frente, tudo sumiu. A estrada, os morros, plantações, outros carros. Tudo mais. A tensão subiu por minha espinha, misturada à minha ansiedade, minha felicidade.

À trezentos por hora. Na sua direção.


"Eu vou organizar algumas mudanças em minha vida
Eu vou pegar o carro e desbravar estradas abertas"

Sexta, 15 de agosto de 2008

eu vi um cachorro andando na praça
não tem mais ninguem
só um cachorro andando na praça
eis que aparece outro cachorro
e mais outro
e dominam a praça
andam e correm por todos os cantos da praça
correm
passam pelo coreto
sem a menor cerimonia
sem falar nada
eis que alguma coisa acontece na rua
e os cachorros não fazem nenhum discurso no coreto
eis que acontece alguma coisa no outro lado do mundo
e a boca dos cachorros não diz palavra
e eles dominam a praça
a praça é deles
dos cachorros
sem nenhuma cerimonia
eles dominam a praça

Rafael Barbosa Chagas

sábado, 26 de dezembro de 2009

Presente

Não merecia
E minha boca não disse palavra
Palavra alguma, por respeito
, dignidade
, vergonha

Isso pesa em mim
Pesou em você
E em você também.
Nós sabemos
Que a boca não diz palavra
Mas o coração grita
, chora
, sangra

O perigo para mim se desfez
E a solidão se fez
Presente mais uma vez

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Poética

Tomo banho nessas águas calmas, de correnteza que me leva à você.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Profundo

Vem da alma
Fundo

Fundo

Vem da mais funda verdade
Onde moral nenhuma consegue chegar

Pode construir
E pode desmoronar

O que fiz?
O que farei?

E agora?

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Controle

Tenho uma vontade
Banhada pelo sangue
De um coração reprimido
Uma vontade que vale a pena
Pela falta que faz

Tenho uma cabeça
Sensata, sabe o que faz
Controla o que não deveria ter controle
Você entende o que digo?

Nos meus piores momentos
Estive longe, sozinho
Mas a vontade vale a pena
Pela falta que faz

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Sangramento

Eu quis o perigo e até sangrei sozinho
Entenda:
Assim pude trazer você de volta pra mim
Quando descobri que é só você que tem a cura do meu vício

Tentei chorar e não consegui...

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Agressão e repressão


Sim, agressão e repressão. Foi isso que a Polícia do DF fez contra pessoas indignadas com a vergonhosa onda de sujeira que apareceu no GDF nos últimos tempos. A polícia agiu agredindo covardemente pessoas deitadas no chão, que nem se mexiam. A polícia agiu agredindo covardemente a liberdade de expressão e o direito de ir e vir, cláusulas pétreas da constituição de 1988.

Pra completar, um comandante da Polícia demonstrou sua total falta de preparo, controle psicológico e truculência rolando pelo chão com um dos cidadãos. Certamente, os demais policiais carentes de um mínimo de treinamento obedeceram cegamente, sem bom senso e sem hesitação esse (des)comando que cai, no fim das contas no (des)governo de Arruda e sua máfia.

Como se não bastasse o festival de ridicularidades, panetones, maços de dinheiro, meias e afins, o dito comandante foi à imprensa mostrar mais uma vez seu total descontrole, truculência e violência em uma entrevista, onde precisou ser contido por um policial ao seu lado.

Não vou aqui dizer que isso é um problema de toda a Polícia. Muito pelo contrário. A Polícia é uma institução importante, mas desde que seja pensada, comandada e construída por pessoas dignas e não por bandidos que deveriam estar fora de circulação.

Sim, burros somos nós que botamos vocês onde vocês estão.


"É preciso mudar o sistema policial por que nós já estamos cansados de agressão e repressão"
Ratos de Porão

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Por amor

Egoísta
Cruel
Canalha
Mesquinho
Impulsivo

E tudo mais que se puder pensar


Imaginável

Eu poderia calar
Mas falei
Poderia pensar
Mas fiz

Chorei em vez de rir
Na tensão fiquei em vez de curtir
Você pode imaginar?
Eu imaginei
Tornei real
Aquilo que não pensei

Você pode entender?
Acho que não
Não como eu
Que sou louco,
Corajoso,
Imprevisível,
Mas confiável

Mas aquilo que não mente
Foi o que fiz
Algo que me sustente
E que alimente
Aquilo que me diz:
"Você não existe"

Dá pra imaginar?

domingo, 6 de dezembro de 2009

Seis anos

E por falar em saudade
Onde anda você?
Onde andam seus olhos
Que a gente não vê?
Onde anda esse corpo
Que me deixou morto
De tanto prazer?
E por falar em beleza
Onde anda a canção
Que se ouvia na noite
Dos bares de então
Onde a gente ficava
Onde a gente se amava
Em total solidão?

Hoje eu saio na note vazia
Numa boemia
Sem razão de ser
Na rotina dos bares
Que apesar dos pesares
Me trazem você
E por falar em paixão
Em razão de viver
Você bem que podia
Me aparecer
Nesses mesmos lugares
Na noite, nos bares
Onde anda você?

Hoje eu saio na noite vazia...


"Onde anda você", Vinicius

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Do céu que adoece

E ele sentou na minha frente. Olhou nos meus olhos tão profundamente que só eu mesmo seria capaz de fazer. O alvo das cortantes palavras disparadas de maneira dura agora era eu.

Construídos como uma fortalezas quase indestrutíveis feitas de imagens, cada um dos meus argumentos se tornou pó. Cada uma das máscaras caía até que só a essência restou.

E então vieram as palavras.

Num passado não tão distante, tais olhos se viraram em outras direções. Agora, virados para mim, fizeram surgir todas as maiores vergonhas, os maiores defeitos, que eram cuidadosamente protegidos por mecanismos agora totalmente desmontados e inúteis.

Quem iria querer estar do lado de um homem como eu?

Finalmente, a lágrima caiu. O desespero de esperar pela sentença atingiu cada um de meus pensamentos. Suor. Frio.

A surpresa me veio quando finalmente tive coragem de olhar para meu cruel inquisidor, veio como um jorro de incredulidade. Um banho avassaldor de auto-conhecimento.


"Nunca me abri desse jeito
Nunca me inportei com os jogos que jogamos
Vindo do coração, podemos ser muito mais
E nada mais inporta."

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Melhor de todos

O melhor presente de todos é um livro. Quer me ver feliz? me dê um livro.

Livros devem ser mantidos sempre ao nosso lado, abertos ou fechados. Abertos, revelam segredos que só a proximidade pode revelar. Segredos íntimos que, naquele momento, só nós sabemos.

Abertos, possuem páginas em branco, prontas para serem escritas e margens, prontas para serem rabiscadas. Prontas para receberem a nossa marca, prontas para serem alteradas para sempre por estarem nas nossas mãos. Livros podem estar além da nossa maturidade. podem se revelar só depois de vários anos...

Fechados escondem segredos e histórias. Mas têm belas capas e encadernações que admiramos. Essas capas escondem os risos e choros que lá dentro estão. Essas capas, porém, são belas e nos convidam a abri-las e correr o risco de viver tudo que lá dentro se esconde.

Penso, afinal, que livros parecem pessoas. Muito mais do que imaginamos.

Quer me ver feliz? me dê um livro.


"Nos deram espelhos e vimos um mundo doente"

sábado, 28 de novembro de 2009

Em fatias

Ato 2

Caminhava, descendo, há poucos metros do meu destino, ouvi:
- Ei! você!
Ignorei. Não deve ser comigo. E ser for, não vou parar.
- Espera! Quero falar com você!
Parei e me virei. Vinha um homem de camisa de mangas curtas, bermuda e chinelo aberto. Um pouco mais alto que eu.
- Você tem algum dinheiro? Preciso pegar um ônibus pra voltar pra casa.
- Não tenho nada...
- Sabe? Hoje quase fui atropelado na minha moto. Um maluco me fechou com o carro. Eu não sou pobre, olha só...
E tirou um celular desses modernos que tem mais funções que qualquer ser humano normal seria capaz de usar com frequência. E continuou:
- Perdi todo o meu dinheiro hoje. Minha namorada tá com a menstruação atrasada, to com medo de ela tá grávida...
- Isso seria um problema
- Claro. Aquela mulher tá me enganando. Descobri que ela tá com um cara aí. É capaz do filho nem ser meu.

A conversa se desenrolou por uns 20 ou 30 minutos mais. No fim, dei o dinheiro...
- Valeu muito, cara. você mora aqui?
- Bem ali adiante.
- Eu vou voltar aqui pra te pagar esse dinheiro amanhã mesmo.
- Não se preocupa, vai cuidar da sua moto quebrada.
- Com certeza que vou. Obrigado. A propósito, meu nome é Jean.
- De nada. E eu sou Felipe.
- Falou, Felipe, valeu.

Me virei e terminei meu caminho. Pensamentos precisam ganhar voz e vidas precisa ser ouvidas, afinal.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Em fatias

Ato 1

Por certo não tenho a poesia pura que a sua sensibilidade tem. Também não tenho a beleza única e indescritível que você tem, no alto da sua imperfeição. O que tenho são pensamentos. Pensamentos que precisam ser revelados...

Mais este pensamento foi interrompido, naquela noite em que chorei. Chorei lágrimas como toda pessoa, mas meu coração sangrava por ter que se encarar de maneira tão dura. Havia sido uma estrela à noite, havia sido como sonhei, afinal. Mas chorava...

O choro persiste. Não mais externo, visível. Sinto que os dias chegam e passam. Com eles passam coisas que não sei dizer, mas que já me fazem falta. O que fazer?

"Corou um pouco e continuou em seguida:
- Se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar entre milhões e milhões de estrelas, isso basta para que seja feliz enquanto a contempla. Ele pensa: minha flor está lá, nalgum lugar..."

O tempo passa. E saberei o que preciso saber. Andarei com minhas próprias pernas, e te levarei comigo enquanto você quiser vir.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Na tua mão

Encontraram-se, trinta anos depois, numa festa. Ela sorriu e disse: "Como vai?"
- Vocês já se conhecem? -Perguntou a dona da casa.

Ele não disse: "Nós nos conhecemos. No sentido bíblico, inclusive. Foi o amor da minha vida. quase me matei por ela. Sou capaz de morrer agora. Ah vida, vida".

Disse:
- Já.
- Faz horas, né? -Disse ela.
Sentou-se ao lado dela. Estava emocionado. Mal conseguia dizer:
- Trinta anos...


Veríssimo


"O teu futuro é duvidoso
Eu vejo grana, eu vejo dor...
Num paraíso perigoso
Que a palma da tua mão mostrou
Me avise quando for embora..."

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Capacidade

Não tenho nada a dizer
Nada a fazer
A não ser o que não quero.

Por teimosia, não quero
Por egoísmo, não quero
Pelo cansaço
Pelo esforço

Pelo sofrimento inevitável, não quero.


"pensar sim e dizer não
quanto mais perto, mais distante do que sou"

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

B A I L A R I N A

Bailarina

O seu corpo tão decente quanto nú
Chega, enfim
Aos braços meus
E eu sei que você ao se deixar tocar
Me dará o prazer
De ser um mortal

Imortal

De ser um mortal
Capaz de amar
Você


Arnaldo Baptista

Pregador de roupas


Pombos são criaturas inseridas num contexto sócio-histórico específico contemporâneo. Por esse motivo, são limitados à norteadores de conduta específicos deste momento e tão complexos quanto qualquer outro grupo. A definição do conceito de pombo é, sem dúvidas, de grande complexidade e necessitaria de grande esforço teórico-metodológico que não é, a princípio, os objetivos deste texto. Portanto, limito-me a analisar os indivíduos aos quais se refere o termo proveniente de estudos biológicos Columba Palumbus.

Sem dúvida, a conduta dos indivíduos acima definidos segue o paradigma pós moderno da predominância da ação instrumentalizadora racional. O ato de dormir, por exemplo, em observações de campo, se mostrou presente apenas quando não há mais pipocas pelo chão. Isto é uma demostração do cálculo racional de perda e ganho de energia vital em função da disponibilidade de alimentação.

A reprodução é ditada pela predominância esmagadora de fêmeas em relação ao número de machos. Durante o choco dos ovos, há a ação premeditada de indução ao nascimento de fêmeas que são mais ágeis na toma de decisões, além de serem mais leves para o vôo e na caça. Portanto, a conduta tomada pelos indivíduos é ditada pela instrumentalização da ação com um fim de responder à uma situação de liquidez pós moderna, garantindo a reprodução da estrutura característica do campo emplumado.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Vítimas

Da nossa imperfeição
Da passionalidade teimosa
Da racionalidade temerosa

Você é de mim
Sou sou de você
Dos amores mútuos
Amores correspondidos
Amores interrompidos
Das vontades secretas
E das públicas também

Dos carros que andam na rodovia
Dos que ficam parados na cidade
Do telefone que tocou
E do que silenciou também

Das palavras
Escritas, faladas, cantadas, gritadas e não ditas
Apenas pensadas.

Das ações e das emoções. Das frustrações proibidas.
Das conversas inventadas e das perguntas sem destino

Da nossa fatalidade
Nosso pessimismo
Nossos clichês
Falsos moralismos
Falsos heroísmos
E os verdadeiros também...
...até aqueles que ninguém viu

Eu sou abençoado


"De que tienes miedo?
A reir y a llorar luego
A romper el hielo
Que recuebres tu silencio
Grita!"

domingo, 15 de novembro de 2009

Fluxo

O silêncio ás vezes diz muito mais que palavras.

Eu já sei lá no fundo que deveria saber, mesmo sem dizer o que.

E eu perdi o que jamais tive.


"Y no me sonrojo se te digo que te quiero."

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Sintonia

-eu vou ser feliz.
-me convida pra sua felicidade.
-você tem coragem?
-...

A resposta que ainda não veio me disse pra atravessar a ponte. Atravessei e deixei atrás de mim uma perda que eu mesmo não conheço de fato. Quem sabe um dia?


"Tu habias sido, sin dudarlo, la mas bella dentre todas las estrellas que yo ví en el firmamento."

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Sim, eu sou capaz

Me preparei durante muito tempo. Muito tempo. Me firmei finalmente, agora não existem mais pesos insuportáveis pra levar, pra me impedir, enfim. E me deu um trabalho absurdo me livrar deles...

Agora nem olho mais pra eles, eles ficaram no passado, que é o lugar deles. Minha leveza agora me acompanha e o alívio veio junto. E a hora chegou. Saí das sombras, a noite chuvosa e solitária se acaba, deixo o submundo obscuro que eu mesmo construí...

Firmei as bases, olhei pra cima. O céu me espera, afinal. Levantei vôo, suave, com calma. No início o espaço me assustou. Antes não me movia, preso. Agora tenho espaço de sobra...o que fazer?

Simples: aproveitar.

"- Bem vindo ao meu mundo, onde as pessoas não andam, flutuam!"

Passei a brincar com nuvens, a voar e ver...e lá de cima vi como somos pequenos. Vi a imensidão das coisas que não vemos quando acorrentados estamos. Tomando velocidade...lagos rios e mares...cidades. Florestas e montanhas. Simples? Não. Lindo, sim. Bastante...o espaço vazio se torna liberdade. De movimento. De pensamento. De ação. Ou simplesmente de contemplação.

Flutuando, olhei para os lados. Outros estavam lá. Não eram rostos impassíveis como aqueles do corredor...e nem distraídos no seu egoísmo como os donos dos copos...não eram a dúvida encarnada e nem eram o vazio das trevas noturnas...

Brilhavam.

- Deixei de ver vultos pra ver luzes?

Parece que sim. Flutuavam e me viam, alegres por eu estar ali. Sorriam e me convidavam para brincar com eles. Nunca havia esperimentado algo igual. É assim que se sentem as pessoas quando são amadas? deve ser...mas nunca me viram, como pode ser possível?

Percebi que isso não fazia muito sentido. A luz torna as coisas tão lindas e puras que aqueles rostos um dia sombrios agora eram claros, leves, flutuantes como eu. O vento vinha e levava minhas dúvidas, levava o que restou daquilo que eu era antes.

Brinquei por um tempo que pareceu uma eternidade. Mas eu sei que não foi muito. Mas foi a maior de todas as felicidades. Voltei para o chão, que agora brilhava com o sol lá em cima, com aquele calor aconchegante. Olhando para os lados de novo, vi aquelas pessoas que brincavam comigo. Estavam ainda do meu lado, tinham descido comigo e queriam andar do meu lado. E essa foi, sem dúvida, a maior mudança de todas.

P.S. Texto originalmente publicado no dia 08/09/2009. Mas, também, continua a fazer sentido.

"Aceite as consequências do que acha que te faz melhor
Há urgência em estar vivo!"

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

5 minutos

Estava escuro. O vento frio entrava fortemente pela brecha na parede fazendo tilintar o metal da janela mais abaixo. Só podia ver parte do teto pelo feixe de luz da rua que criava uma sombra irregular.

Minha cabeça encostou na madeira e eu me abaixei um pouco. Apesar do frio e da escuridão quase total, tinha, ao meu lado, absolutamente tudo que desejaria ter em qualquer situação. Seja qual for.
Uma pequena ação foi suficiente pra fazer subir o calafrio por minha espinha.

- se acalme. Disse a mim mesmo em pensamento.
- como?
- você se despiu completamente da armadura solitária de outros tempos. Isso é um problema?
- talvez. não sei agir sem ela. não sei o que fazer com aquilo que não vinha até mim antes.
- se acalme.

Repeti mais algumas vezes. Não entendi o que se passava por dentro, por isso prefiro falar da escuridão e do vento do lado de fora...Me virei para um lado, mais um calafrio.

- preciso agradecer.
- quem se livrou da armadura foi você. Agradeça a si mesmo por isso.
- exatamente.

Por um momento, vi a cortina esvoaçar ao sabor de uma rajada súbita de vento. Mas não podia ver meu rosto no espelho. Ainda bem. Bendita escuridão. A armadura se foi, mas a sombra estava lá pra me proteger.

Por ironia do destino, a sombra não me protegia e sim me acolhia. De fato, tudo que eu poderia desejar na vida estava ao meu lado. E isso basta.


"O que me importa ver você chorando, se tantas vezes eu chorei também?
O que me importa a sua voz chamando se pra você jamais eu fui alguém?"

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Fato

Eu não gosto de jiló. E nem de rúcula, é amarga demais.
Gosto de arroz com feijão, uma boa pimenta e um bife com batata frita.

Não gosto de gente devagar demais, e nem rápida demais. Gosto de ritmo.
Gosto de música, mas não gosto de toda música.

Gosto do Flamengo, e gosto do Gama também. Gosto do Universo.

Gosto de gente, mas não gosto de toda gente. Gosto de alguma distância, mas não gosto de toda distância.

Gosto de ter minhas próprias idéias e gosto de trocá-las com outros. Gosto de manter pessoas perto de mim. Mas não gosto de todas as pessoas perto demais o tempo todo.

Gosto de alguma organização, gosto de ter calma. Gosto de fazer o que gosto e ás vezes o que não gosto também.

Gosto muito de mim. E gosto de você também.
Fato.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Endereço certo

Esse é pra você.

Que sempre esteve ao lado enquanto eu olhava pra frente apenas.

Que é a sinceridade que esperei. Que é um pouco de ansiedade também.
Falo sem meias palavras, sem metáforas.
É pra você mesmo.
Companhia e companheirismo. A perfeição pra mim que ás vezes custo à acreditar que existe.

Que às vezes custo à acreditar que mereço.

Se eu mereço, não sei. Mas eu sei que você merece. Merece tudo de melhor que a minha imperfeição pode dar, pode fazer.

Esse é pra você.


"Todo dia a insônia me convence que o céu faz tudo ficar infinito..."

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Uma donzela

Jamais será eu
Jamais você

Jamais

Jamais

Jamais o olhar atravessado
O sorriso cortado pelos tempos
Que passaram por mim

Jamais será a estrela que pouco brilhou
E morreu, sem ser notada

Jamais será a donzela que um dia me mereceu
Jamais será um homem como eu
Que pouco fez e muito recebeu.

Jamais a liberdade lhe bastou
Ou a beleza de um amor
A lágrima agora me diz:
Tanto procuraste, agora me achaste.

Jamais

Jamais

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Solidão

Aqui, sentado, começo a escrever.

As portas fechadas ao meu redor denunciam minha solidão. Não é física. Nem emocional.

Se trata, na verdade, daquela hora de encontro comigo mesmo, aquela hora que as coisas e pessoas que realmente importam vêm à minha mente e se tornam foco principal da minha vida. E a primeira pessoa que me vem sou eu.

E eu venho preenchido por algo que de torna totalmente feliz, mas que eu não sei explicar bem. Isso basta em si mesmo. Porém, não alivia a necessidade da presença, essa presença que não está.

A porta está fechada, lembra?

Totalmente paradoxal. Está mas não está. Na verdade, o que está não é o que eu quero, daí a solidão. Eu quero mais. Eu quero a razão da vida, que eu não faço idéia do que é. Se você souber, me diga.

É aqui, na ausência, que eu faço meu encontro comigo, afinal. É aqui, na ausência, que eu faço meu encontro contigo. No meu mundo. No meu ritmo. Você entende agora? Acho que sim...


"Só você tem a cura do meu vício de insistir nessa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi."

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Sobre caixas

Num certo tempo, coloquei minhas coisas em caixas. Coloquei onde as coisas cabiam. Algumas eu forcei a barra para que entrassem em caixas não muito ajustadas pro seu tamanho.

Guardei minhas caixas comigo, em lugar seguro. Aquelas coisas guardadas podiam ser incômodas naquele tempo, mas quem sabe depois? As caixas tinham formas fáceis de organizar e de entender. O contrário de muitas das coisas que guardei. Essa é uma das funções das caixas.

Caixas também são ótimos enfeites. As minhas eram lindamente decoradas do meu jeito e me agradavam bastante. Ficavam quietas e exerciam sua função perfeitamente.

Muito tempo depois, resolvi abrir as caixas. Caixas fechadas às vezes nunca são abertas por que isso é mais cômodo. Mas as caixas me reveleram um lindo presente que eu guardei pra mim mesmo, sem saber. Tirei tudo de lá e botei num lugar muito especial.

Agora penso que algumas das coisas que tirei querem, por vontade própria, entrar em novas caixas. Algumas outras coisas eu botei em novas caixas por vontade minha.

Essa é a essência da mudança que vivemos agora. Eu e você.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Rápido

Ela entrou no carro. Seus olhos brilhavam confiança e um pequeno sorriso denunciava sua consciência de ter tudo no controle. Acertou o banco e cada um dos retrovisores cuidadosamente, colocando o ponto cego exatamente onde queria.

Rodando a chave, sentiu o ronco do motor, que soou como música para seus olvidos. Tinha em sua mente a rota a ser trilhada de maneira clara, do jeito que estava no mapa.

Um mapa não é a realidade.

Acelerou, confiante. Os faróis brilhavam, dando certa visibilidade à frente. Algumas curvas, algumas retas, névoa.

Faróis não iluminam o infinito.

Algum tempo depois, percebeu não saber exatamente onde ia. Percebeu que o motor, antes confiante, agora era incerto. O caminho se tornou incerto. O sorriso se desfez em uma mistura de resignação e tristeza querendo, talvez, voltar atrás. O olhar já não sabia o que fazer. A confiança se foi e ele se perdeu num infinito que terminava à sua frente.

Será que dá pra voltar agora? Será que devo tentar voltar? Existe retorno?

Enquanto pensa, o motor funciona levando-a à frente, sem a exitação que aquele olhar assumiu.


"Llevo en mi cuerpo un dolor que no de deja respirar. Llevo em mis manos un camino que no tiene destino."

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Confissão

Ali, sentado na areia, te vi chorar ao longe, com os olhos voltados para o mar. O motivo real eu nunca saberia. Mas me levantei e te trouxe para o meu lado de novo. Pouco tempo depois, cometi, pela segunda vez, o mesmo erro que tanto tinha me trazido arrependimento...

Paguei caro. Vejo agora, tempos depois, o que realmente eu deveria ter feito desde a primeira vez. Mudei. E me tornei realmente importante e não apenas mais um entre outros. Obrigado por ter me dado a minha terceira chance.


"Se no te hablo será porque prefiero ser el dueño de mi silêncio. Creo que lo mejor sea que te olvidas de mi."

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Constelação

Lá em cima elas se formam...não sei discenir, nunca soube. Quem nunca olhou pro céu procurando algo que racionalmente não sabe o que é, mas o coração sabe bem?

Foi lá que a estrela cadente rasgou a noite e eu pedi a minha felicidade. Não pra estrela. Eu pedi algumas vezes coisas diferentes... e Ele nunca falhou comigo, nenhuma vez sequer. E dessa vez não é diferente. Dessa vez pedi coragem. Coragem pra fazer o que deve ser feito.

Não é muito, na verdade. Eu olhei pra cima e vi como somos pequenos. Mas na minha pequenez preciso mudar, apesar das lágrimas que desceram daqueles olhos que não puderam olhar nos meus por alguns momentos.

Imensidão infinita. Estou em paz. Estou feliz. O céu muda... a estrela cadente desapareceu tão rápido quanto surgiu. As coisas mudam, assim sempre foi e assim será. Peço humildemente que Ele ilumine meu caminho e o caminho de todos nós.

"Descobri em você a minha paz
Descobri sem querer a vida"

Essa não passa em branco

Bem feito.

Pra esses bambis verem quem é "pequeno".

http://tinyurl.com/ykmylat


Acho que vou ganhar uma camisa logo, logo...

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Por inteiro

Assim sou. E assim continuarei sendo. Uma totalidade ambígua, paradoxal, que tenta se entender todo dia um pouco mais.

Assim sou e assim você é. Assim é meu amor por mim e por você. Inteiro, que não se contenta com partes.


"Eu sei que jogos de amor são para se jogar.
E não venha me explicar o que eu já sei."

sábado, 3 de outubro de 2009

Fala

A fala é a fala da verdade. Ás vezes parcial, ás vezes omitida em parte, mas verdade.
A fala da verdade pode ser doce, pode ser dura. Pode ser aquela que não queremos ouvir.
Pode ser aquela que precisamos ouvir, apesar de não querer.

Você quer ouvir?

Nós merecemos a fala da verdade. Qual é a sua verdade? Qual é a minha?
Ela fala no coração. Se abafada, ela grita. Está lá, não adianta negar. Agora eu sei.
Se ignorar o grito, ele vem de fora, daquelas pessoas que assumem esse papel de verdade.

Fala sincera, que bate de maneira doce, mas forte. Se for separada da ação, provoca a culpa. Fala que todos ouvimos. Ou pelo menos deveríamos ouvir sempre um pouco mais.

Será que eu quero ouvir? Será que eu preciso? Eu mereço. E você também.


"De hoje em diante vou modificar o meu modo de vida. E agora não vou mais ficar, cansei de chorar e de esperar, enfim...
E pra começar, eu só vou gostar de quem gosta de mim"

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Tarde

Para seu choro
Para minha felicidade
Para seu arrependimento
Para o seu perdão

Agora é tarde

Para a sua mudança
Para a minha mudança
Para alguma atitude
Sem nenhuma esperança

Esperança de mudança
Mudança que não chega
Que não chegará

Agora é tarde

Tarde demais pra voltar
Porque já não temos mais volta
Tarde demais pra pensar
Que o mundo espera
Que o mundo me espera

Agora é tarde

Tarde de sol se pondo
Tarde de vento fresco
Tarde que termina mais uma jornada
Tarde que prenuncia o novo

Agora é tarde

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A intensidade que você tanto quer!

Cheguei.
A multidão se aglomerava. Umas 20 ou 25 mil pessoas. Fui logo pra frente, isso é imperdível! desde a minha adolescência esse tipo de coisa é totalmente incrível. E avassaladora!

Dois bumbos, 5 e 6 cordas devidamente distorcidas e amplificadores gigantes, pra botar tudo abaixo de verdade. Começa.

Under a pale grey sky we shall arise!

Empurra. Empurra. Abre a roda, alguns murros. Correria insana. Empurra. Pulos e cabeças.

Uma moça pequena do meu lado simplesmente desaparece...não tenho idéia de que fim levou. Mas não tinha briga. Nunca tem. Não tem jeito: é mais fácil achar briga nas micarês. Digo isso até que me provem o contrário. Intensidade extrema, sem apelação.

No conformity in my inner self!

Refuse, Resist! Saí. Não dei conta. Mas que absurdo! Isso é uma vergonha! primeira vez em quase dez anos que eu preciso fazer isso! inadmissível sob qualquer aspecto. Acho que tô ficando velho... que merda.

Roots Bloody Roots!

Acabou. Dispersão. Coitados dos caras de Goiânia que entraram depois...fiquei com pena. Sério.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A Casa dos Loucos

João vira pra Maria:
- Vamos embora. Eu to cansado e quero tirar essa calça.
- Nós vamos na hora que o motorista quiser.
- Nós viemos de motorista?
- Você não se lembra? isso tem menos de vinte minutos.
- Eu quero ir pra casa. Tá tarde.
João se levantou e foi pra sala, Francisca faz o caminho contrário e encontra Maria:
- Não sei como você tem paciência, Maria...ele tá ficando louco já...
- Vou jogar ele na piscina pra ver se passa!
- Eu comi um pão bom ontem.
Na sala, João encontra Pedro.
- Foi você que nos trouxe aqui?
- Foi sim, João. Eu tava dirigindo.
- Que horas você vai embora?
- As onze. Eu vou pra piscina.
- Piscina nesse frio?
- Claro!
Pedro sai correndo e pula na piscina, molhando as duas que estavam do lado de fora. João sai e vai ter com Francisca e Maria.
- Eu quero ir embora, to com calor nessa calça.
Francisca responde:
- Pula na piscina igual o Pedro.
- Mas nesse frio? tá louca?
Maria entra na conversa:
- Tá calor mesmo!
Maria tira a blusa e levanta a saia.
- Mas que indecência é essa?
- Indecência é ficar nesse calor, João!
- Será que tá passando futebol?
- Prefiro a novela. Você vê a novela, Pedro?
- Não...não gosto. Prefiro ver o cachorro dormindo. É mais emocionante. Olha lá!
- Tem razão! O cachorro dormindo é mais emocionante.
Vem João de novo falar com Maria:
- Não sei ligar a tevê. Vamos embora.
- Você parece um gato...não pára quieto um minuto!
- Que gato? nunca vi gato lá em casa.
- Não to falando lá de casa.
- Pedro, foi você que nos trouxe aqui?

Pedro, então, desiste, sai da piscina, toma um banho, pega o carro e vai embora com todos de volta pra casa.

Como diz o velho deitado: de perto ninguém é normal.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Presença

Ato 1

Tinha doze anos de idade. Minha família saiu de casa por algum motivo que não me lembro e eu fiquei sozinho. Terminei meus afazeres e, na minha rotina de menino, fui ver desenhos animados na televisão, no outro quarto.

Sentado, vendo tevê, ouvi o rangido de uma porta sendo fechada ou sendo aberta. Ouvi o tilintar das chaves sendo movidas. "Minha família chegou" pensei. Levantei e fui até a sala.

Não tinha ninguém e a porta seguia fechada. Voltei, sentei naquele velho sofá que nem temos mais. Ouvi passos na sala e o "bip" característico das teclas do telefone sendo tecladas. Discando um número qualquer. Fui até lá e não vi nada. Ninguém. E o telefone no gancho.

Ato 2

Estava sentado na sala de uma pessoa amiga que não mais está do meu lado. Essas coisas da vida. A pessoa estava à minha direita, no sofá, mas eu olhava para o outro lado, em direção à um filme.

Percebi que tinha chegado mais alguém na sala, por certo estava atrás do sofá à minha direita. Me virei pra ver quem era. Só vi o sofá, aquela pessoa, e a parede atrás.

Ato 3

Parei o carro na vaga e me preparei pra descer. Pelo retrovisor do meio alguém passou. Pelo outro não. Desapareceu antes que o espelho fosse capaz de captar, antes que eu pudesse ter reação.

Ato 4

Deitado em minha cama, podia ver a sala, as portas de um dos outros quartos e a porta da cozinha. Uma das luzes estava acesa, dando uma visão tranquila do ambiente, apesar de não ser total. Lá na cozinha, porém, tudo apagado e era escuro. No quarto que podia ver, estava escuro também mas podia ver o piscar da televisão ligada refletindo na porta e na parede.

Uma pessoa saiu do quarto e entrou rapidamente na cozinha.

-Alguém aí saiu do quarto?
- Não. Estamos deitados aqui vendo tevê.

Ato 5

Estava sentado na mesa da sala, lendo. Na minha frente, a janela dava visão ao quintal grande, cheio de árvores e à parte da calçada que compõe a varanda. Nessa parte da varanda, o cachorro estava deitado, tomando sol. Naquele dia estávamos em casa eu, mais uma pessoa e o cachorro (claro).

O homem saiu de trás de uma das árvores. Vestia calça e camisa sem manga azul. O cabelo era curto e a pele clara. Eu o vi de lado, lá fora, no quintal. Ele não se virou em nenhum momento, parecia ter plena consciência e segurança que nada podia notá-lo. Entrou por trás de outra árvore e sumiu.

O cachorro seguiu dormindo tranquilamente.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Um pouco mais do mesmo

Você não é o que eu penso, ou pensava.

Você é mais.

É capaz de fazer coisas totalmente imprevisíveis na minha limitada visão das coisas e, por isso mesmo, muda as coisas de acordo com sua vontade.

Não entendo o que acontece. Mas, sinceramente, não quero entender. Sentir me basta.

Até porque não seria capaz de entender ou de reproduzir, sua percepção do mundo é exclusiva e eu nada posso fazer. Sua ação ás vezes me é visível, mas as verdadeiras movimentações, aquelas que realmente importam, acontecem onde eu não chego.

Onde você vai além.

Você não segue as regras do meu jogo e nem do seu próprio, faz e desfaz onde eu jamais imaginaria ser possível, naqueles lugares que eu julguei imutáveis.

O meu julgamento não te serve. Meus parâmetros são falhos e a minha percepção distorcida.

Você é superior. É aqui que, afinal, nos tornamos iguais.

Mas, o mais importante a dizer disso tudo é que a recíproca é verdadeira. Hoje mais do que nunca.


"Brigar pra que, se é sem querer? Será que vamos ter que responder pelos erros a mais?"

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Introdução à crítica discursiva do conteúdo sócio-epistemológico refletido em si mesmo


O grande objetivo da sociologia é construir uma crítica construtiva das diversas concepções da dialética limitada, ou não, baseadas na inversão epistemológica do a apriori material da ação racional com relação à fins interiorizada de maneira externa, geral e coercitiva na estrutura estruturada e estruturante do habitus do campo.

É importante lembrar que para isso é preciso indagar sobre as bases conceituais das camadas do discurso tomado como produtor de verdade na medida da concepção limitada pela incapacidade cognitiva inerente ao indivíduo dependente do fluxo temporal da performance sistematicamente desarticulada pela liquidez institucional.

Ora, se levarmos em conta que as redes que compõem os sistemas de comunicação são exteriores e interiorizadas dentro da mesma estrutura mencionada acima, temos que a orientação da conduta a ser analisada de um ponto de vista jamais totalmente e reciprocamente imparcial são determinadas de modo racional pelo observante desde que tomadas as precauções típicas da observação parcial com vistas à produção científica das leis da física social qualitativa pregada pela teoria transcendental, racional, social e, acima de tudo, independente do modo produção organizado de maneira estratificada e precarizada típica da hiper-modernidade ideológica.

P.S. Post originalmente publicado no dia 27 de abril de 2009, sob o título "Homo Socyologykus" (e a foto era outra!).

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A ponte (que não existe)

Não dá.

Voltemos à primeira opção. Ela que é muito mais real e que me interessa muito mais, ela que se mostrou daquele jeito que, por enquanto, eu não consigo descrever.

A ponte dá muito mais trabalho...

A ponte

Eu quero que a minha seja de concreto, com armações de ferro e proteção contra terremotos. Quero 3 pistas em cada sentido e passagem pra pedestres nas laterais, do lado de uma ciclovia.

Será que dá?

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Mais do mesmo

Eu não sou o que você vê. E nem o que você acha de mim.

Eu sou maior.

Eu vou além.

Tenho razões que você não pode entender e ajo de formas que você não pode explicar. Eu sou maior que a sua capacidade de percepção e de visão. Meu raio de ação é muito maior do que você imagina e meu mundo é muito mais vasto que você pressupõe.

Posso perfeitamente conquistar o mundo se eu quiser. Posso perfeitamente mudar o mundo do jeito que eu quiser. Do meu jeito. Eu não ajo segundo suas regras e nem respeito o seu jogo. Pelo contrário, eu jogo enquanto for conveniente.

As limitações que você vê não são nada perto da minha vontade e das minhas decisões. Não me importa o que você diz, o que você faz, o que você deixa de fazer. Tudo isso só me afeta na medida em que eu permito isso.

Posso sumir se eu quiser, posso voar se eu quiser. A minha mente é muito mais ampla do que sua capacidade de tentar entender tudo isso.

Não use seus parâmetros comigo. Não vai funcionar. Eu não sou nebuloso e confuso. Sou claro, do meu jeito. Penso, percebo, manipulo e sinto de formas que você jamais será capaz de fazer, de se aproximar, ou de entender.

Mas, acima de tudo, o mais importante a dizer é que a recíproca de tudo isso é verdadeira.



"Ás vezes você me pergunta porque eu sou tão calado
Não falo de amor quase nada e nem fico sorrindo ao seu lado
Você pensa em mim toda hora,
Mas saiba que eu estou em você, mas você não está em mim"

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Abre aspas

Eu já tentei de tudo pra me modificar:
Os vícios eu larguei e até Deus fui procurar
Mas num mundo tão honesto não há lugar pra mim
Todos dizem a verdade
Só eu sou falso assim...

E essas pessoas tão sinceras andando pelas ruas
Me fazem lembrar que eu não passo de um panaca!

Eu não presto!

É você se olhar no espelho e se sentir um grandessíssimo idiota,
Saber que é humano, rídiculo e limitado
Que só usa dez por cento de sua cabeça, animal...
E você ainda acredita que é um doutor, padre ou policial
Que tá contribuindo com sua parte para o nosso belo quadro social...

Eu não presto!


Fecha aspas.

domingo, 13 de setembro de 2009

Confissão

Acordei, quando vi que algumas vezes que somos deixados em pedaços não há nada que possa curar.

Nem amor,
Nem desespero,
Nem medo,
Nem pessoas,
Nem solidão,
Nem raiva,
Nem resignação,
Nem a felicidade,
Nem a tristeza,
Nem os seus olhos
E nem o meu choro.


"Solo quiero decirte adiós"

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Alto

Me preparei durante muito tempo. Muito tempo. Me firmei finalmente, agora não existem mais pesos insuportáveis pra levar, pra me impedir, enfim. E me deu um trabalho absurdo me livrar deles...

Agora nem olho mais pra eles, eles ficaram no passado, que é o lugar deles. Minha leveza agora me acompanha e o alívio veio junto. E a hora chegou. Saí das sombras, a noite chuvosa e solitária se acaba, deixo o submundo obscuro que eu mesmo construí...

Firmei as bases, olhei pra cima. O céu me espera, afinal. Levantei vôo, suave, com calma. No início o espaço me assutou. Antes não me movia, preso. Agora tenho espaço de sobra...o que fazer?

Simples: aproveitar.

"- Bem vindo ao meu mundo, onde as pessoas não andam, flutuam!"

Passei a brincar com nuvens, a voar e ver...e lá de cima vi como somos pequenos. Vi a imensidão das coisas que não vemos quando acorrentados estamos. Tomando velocidade...lagos rios e mares...cidades. Florestas e montanhas. Simples? Não. Lindo, sim. Bastante...o espaço vazio se torna liberdade. De movimento. De pensamento. De ação. Ou simplesmente de contemplação.

Flutuando, olhei para os lados. Outros estavam lá. Não eram rostos impassíveis como aqueles do corredor...e nem distraídos no seu egoísmo como os donos dos copos...não eram a dúvida encarnada e nem eram o vazio das trevas noturnas...

Brilhavam.

- Deixei de ver vultos pra ver luzes?

Parece que sim. Flutuavam e me viam, alegres por eu estar ali. Sorriam e me convidavam para brincar com eles. Nunca havia esperimentado algo igual. É assim que se sentem as pessoas quando são amadas? deve ser...mas nunca me viram, como pode ser possível?

Percebi que isso não fazia muito sentido. A luz torna as coisas tão lindas e puras que aqueles rostos um dia sombrios agora eram claros, leves, flutuantes como eu. O vento vinha e levava minhas dúvidas, levava o que restou daquilo que eu era antes.

Brinquei por um tempo que pareceu uma eternidade. Mas eu sei que não foi muito. Mas foi a maior de todas as felicidades. Voltei para o chão, que agora brilhava com o sol lá em cima, com aquele calor aconchegante. Olhando para os lados de novo, vi aquelas pessoas que brincavam comigo. Estavam ainda do meu lado, tinham descido comigo e queriam andar do meu lado. E essa foi, sem dúvida, a maior mudança de todas.

Como é um mundo claro? Um mundo onde o ar é leve? Como....?


"Tiro do céu uma nuvem e vejo que é de algodão. E vai, sem demorar, virar chão..."

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Liberdade relativa

-HAHAHAHAHAHA!
-Do que você ri?
-rio da vida! é hilária!
-você acha?
-Lógico, você passa um puta tempão fazendo besteira. tem que rir mesmo!
-você tem até razão.

Lanvata, pula, corre, grita e viva! Não se reprima!

-calma, não é bem assim!
-claro que é! porque não seria?
-não sei! eu deveria saber?
-se você diz, deve saber. o que eu sei é que não sei do que você sabe.
-hein?
-não importa. pára de complicar.
-eu?
-é. você. é você que não sabe, eu sei bem.
-sabe de que?
-do que você precisa. do que você quer. do que espera.
-ah é? e o que eu preciso fazer?
-disso eu não sei.

-e você? sabe?


"Tento escapar dessa prisão rumo a um paraíso, sem olhar pra trás."

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Fluxograma

Ás vezes é melhor ficar calado.
Calado a esperar, calado a observar. Deixar perceber aquilo que não é dito.

Calando, deixamos que a percepção faça o seu trabalho, ás vezes iludindo, ás vezes mostrando o jeito que realmente é aquilo que tantos tentam falar.

Outro dia falei sobre o silêncio. É bem aquilo mesmo. Calar é deixar que fale as outras vozes que são muito importantes, ás vezes as mais importantes. Já ouvi e entendi muita coisa assim.

Tem gente que tem habilidade incrível de falar com um olhar...

E falando quando não devo provavelmente calei esse olhar. Na verdade, falar é bem fácil. Difícil é fazer. Eu sou um aprendiz. Me engano e entro em dúvidas complicadas por ter a confusão da percepção do meu lado.

Dizem por aí que amigos são os anjos que Deus manda pra cuidar de nós. Penso ser verdade isso tudo. Mas, de verdade, esses anjos me são mais claros quando me calo nas horas certas, me falam de coisas tão profundas que palavra nenhuma seria capaz de falar. Só o olhar consegue. só a presença consegue. Só um toque.

Essa verdade é tão óbvia que nem sei se faz algum sentido escrever sobre isso. Até porque penso que quem assim não vê terá sua hora certa, e vai ver que a verdadeira ação construtiva e salvadora de consciências perturbadas vai muito além de só falar. Vai muito além de só calar. Vai além.


"Uma menina me ensinou quase tudo que eu sei."

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A pessoa certa. Na hora errada.

Segui caminhando e a escuridão se abriu na minha frente. Meus ferimentos começaram a cicatrizar, finalmente. E não quero que eles se abram novamente e comecem a sangrar.

Os restos da última batalha foram poucos. Muita coisa a ser reconstruída e reorganizada. Esse é o tipo de coisa que não se faz do dia pra noite. Caminhando encontrei sombras que se moviam escondidas atrás de luzes ofuscantes...eu também fui uma dessas sombras e sei bem como é querer sumir.

Agora não quero mais sumir. E nem me esconder. Algumas pessoas assim querem e vão muito além de apenas sombras, desaparecem em seu mundo de mágoas. Não julgo ninguém, também já fiz isso. Mas mudar é bem complicado. Me preparar pra mais um ato de coragem e risco é algo que me traz um certo receito, admito.

Mais um dia me espera. Mais uma esperança se abre...ela voltou mais forte que nunca e quer ver mudanças.


A parte mais difícil de amar é aceitar as escolhas do outro.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Medo

É a resposta daquela que é a pergunta.


Maiores dúvidas?


"Sei que você ainda pode me vencer, mas você sabe que não vou desistir. Já provei do sangue em minha face...a dor já faz parte do total."

sábado, 22 de agosto de 2009

Torto

Até que eu finalmente percebi que a
Moradia da paz e da calma pode ser também
Outro momento de nossas vidas. E a
Rapidez dessa percepção é avassaladora.


Pena algumas pessoas não entenderem. Pena eu mesmo não entender.


"Quando tá escuro e ninguém te ouve, quando chega a noite e você pode chorar. Há uma luz no túnel dos desesperados."

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Protagonista

Reforcei as bases. Construí mais algumas fortificações reforçadas e assentei melhor o terreno.

Repassei as estratégias de defesa pra não correr o risco de ter outra devastação no meu território.

Também tapei os buracos nas muralhas feitos pelos ataques adversários e omissões dos parceiros.

Reorganizo agora os esquemas de satisfação de necessidades, pra poder, enfim, passar para a expansão.

A expansão é o movimento de retirada temporária da segurança para novos terrenos não tão seguros assim, onde nem sempre se tem a quem pedir socorro.

Mas é mais importante ter garantido a segurança tão dificilmente construída e solidificada atrás das muralhas. É ali que está o porto seguro para todas as horas. É ali que está o que verdadeiramente sustenta as investidas tão necessárias para a sobrevivência do todo...é para ali que irei no fim das expansões e na hora das necessidades primordiais.

As muralhas hoje tem portões cada vez maiores e mais seletivos, permitem a saída de quem quiser sair, mas não permitem a entrada de qualquer um, mesmo que tenha saído de dentro.


Quem sabe o que vem depois da tempestade?


"Ela é só uma menina e eu to pagando pelos erros que nem sei se cometi"

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Metamorfose figurada

Mudou. E vai continuar mudando.

E agora? Eu to louco pra ver como vai ser. E você?



"Et in terra pax hominibus bonae voluntatis."

sábado, 15 de agosto de 2009

Por volta das quatro

O telefone apita. Droga, esqueci de desligar. Uma mensagem: quero te ver. pode ser amanhã?

Por que não? estou estável o suficiente. Pelo menos espero.

Caminhei. Sentei à mesa:
- como passou esse tempo?
- bem. aprendi muita coisa. e você?
- bem também. estive no rio, todo mundo voltou doente de lá.
- eu também. e o povo também voltou doente...mas o rio foi bom demais, olha as fotos.
- que legal, nem pude ir no maracanã.
- você ainda me deve uma saída.
- claro, pode me cobrar.
- cobrarei.
- vamos voltar?
- vamos, tá na hora.

Caminhei, encontrei no corredor:
- já ia buscar vocês!
- não precisa, a gente volta.

Lá dentro:
- onde vocês estavam?
- ali.
- Ali, né? sei...
- já começou...

A porta se fecha.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O novo cidadão Kane


Queridos (as) leitores (as): Já andei sendo intimista demais...penso estar esgotando a paciência de vocês. Então, vou mudar de assunto.

Há vários anos atrás (sei lá quantos), a BBC produziu um documentário chamado Muito Além do Cidadão Kane. Lá explica o poder da Globo nos meios de comunicação no Brasil e o super-poder político de Roberto Marinho. Isso não é novidade pra ninguém, junto com o super-poder dos jornalistas e pseudo-jornalistas brasileiros, o que é totalmente assustador.

Da semana passada pra cá surgiram umas denúncias do Ministério Público contra um sujeito chamado Edir Macedo, bispo e fundador da Igreja Universal do Reino de Deus e dono da emissora de TV da figura aí em cima. O que se viu depois foi digno de eu comentar...

A Globo noticiou só o lado do ministério público, criando reportagens extensas e, eu diria, didáticas, explicando como Edir Macedo estaria lavando dinheiro. A Record, então, fez isso:

http://www.youtube.com/watch?v=YDM5A_WtI1c&feature=related

Assistam.

Um dos princípios básicos de uma reportagem jornalística é ouvir os dois lados da história e dar voz aos dois. Nem preciso dizer se isso aconteceu nessa "reportagem" do link.

Será que estamos vendo o nascimento do novo cidadão Kane? Diria que sim. A Record tá ansiosa por assumir o poder que Globo exerceu durante anos. E como? do mesmo jeito que a Globo: manipulando e assumindo o monopólio. Uma nova gigante...repetindo o que a BBC fez anos atrás, mas com uma motivação clara: atacaram seu super-poderoso chefe e precisam defendê-lo. Ameaçam suas conquistas imperiais na comunicação e precisam defendê-las a todo custo.

Será que trocando Roberto Marinho por Edir Macedo chegamos a algum lugar? Será que dando super-poderes pra essa gente toda: jornalistas, pseudo-jornalistas, empresários e coisas do gênero chegamos a algum lugar? Espero pra ver os próximos capítulos...


"Eu grito pelo meu país que finge serem os absurdos tão normais. Eu desejei o meu lugar e vou agir da minha forma."

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Sim!

Me disseram que eu sou um cara bonzinho demais. Não.
Eu desconto minha raiva de maneira moderada. Não.
Eu amo de maneira moderada. Não.

Eu pouco me importo com o que dizem. Não.
Eu pouco me importo com o que o espelho me diz. Não.
Eu amo a universidade. Não mesmo.
Eu amo todas as pessoas. Não mesmo.

Eu digo a mesma coisa pra todas. Não.
Eu ouço a mesma coisa de todas. Não mesmo.
Eu me entendo perfeitamente. NÃO!
Eu sou totalmente coerente. Não.

Eu sou equilibrado. Não.
As pessoas ao meu redor são equilibradas. Eu acho que não, hein?
Estou sozinho. Não.
Estou acompanhado. Não.

Eu sou isso e aquilo, o antes, o depois e o que é. Sim!

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Como é

Me disseram que era um desequilíbrio biológico complicado...e que vinha de muito tempo, meses, talvez até anos...

Eu duvidei, mas aceitei. Não tinha muito o que fazer mesmo.

As vezes a força vinha. Vinha de um jeito que eu não consigo controlar. Muita gente não consegue entender essa parte, mas é assim que é. O vazio aumenta, a respiração fica profunda e o coração dispara. O tempo parece parar e todo o resto desaparece. O chão desaparece, o desespero vem. A força toma proporções gigantescas, muito maior que a minha capacidade de lutar, ou de resistir.

Tive que admitir que preciso de ajuda.

Uma necessidade. Tão grande que poucas pessoas seriam capazes de suprir. E isso é urgente, é pra ontem, a força não espera pra chegar e não tem a menor pena. Destrói de maneira exemplar a mente e também o corpo, tem um poder que eu acho que você não será capaz de dimensionar e espero que nunca experimente pra saber como é. Poucas pessoas podem enfrentar, só guerreiros de grandeza única, grandeza que eu mesmo nem de longe alcancei.

Eu não sou auto-suficiente.

Do mesmo jeito que a força vem, agora ela se vai. Vai e deixa um estado de total perplexidade. Ela estava lá há tanto tempo que eu não me lembrava o que realmente existe por trás dela. Eu não lembro, e não reconheço. Só resta conhecer. Conhecer de novo, aquilo que te move e que deixou de me mover por algum tempo.

Estou sendo honesto demais?

Agora há espaço sendo criado. Espaço que a força começa a deixar, espaço que devolve ao coração sua batida normal, controla a respiração e devolve o chão ao seu devido lugar, se é que você me entende. No lugar da força mortal e destrutiva, surge de novo aquilo que te move e que irá me mover também. Mas a força ainda está lá. Cada dia mais fraca, mas ainda está lá. Agora me sinto portador de uma pequeníssima parte da luz daqueles guerreiros...

E você, que está lendo isso, me conte também a sua jornada. Sua verdadeira jornada.



"Tu habias sido, sin dudarlo, la más bella dentre todas las estrellas que yo ví en el firmamento."

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Olhei pra baixo e vi como somos pequenos

Hoje fiquei pensando em algo para escrever aqui...

Não me veio nada, até porque ando meio confuso. Mas toda confusão traz um benefício, afinal. Ela permite dar novos significados para as coisas.

Faz 3 dias que sinto uma ausência. Nesses 3 dias, passei por muita coisa...essa é a única ausência que realmente me faz falta.

Agora penso que essa ausência é a minha permissão de viver, afinal. Viver do meu jeito, ser feliz do meu jeito, sem abrir mão de tudo que acho certo e de tudo que eu acredito que vai me fazer bem. Claro que nessa história descobri o que eu não quero, vi e vivi as mais pesadas situações possíveis, mas isso faz parte. Quem disse que um renascimento não dói?

Se você ama uma pessoa, deixa-a viver, liberte-a. Eu fui libertado, e te agradeço muito por isso. Essa foi a mais importante de todas as coisas que falaram ou fizeram por mim. Você disse que não iria se eu precisasse de você...e esse foi meu passaporte pra uma nova vida que começou hoje. A vida que eu tanto quero, a vida que vou construir do meu jeito.


"A solidão é pretensão de quem fica escondido fazendo fita"

sábado, 25 de julho de 2009

Arrependimento

Maldita hora em que pedi perdão
Tanto me humilhei
Maldito pranto do arrependimento que tanto chorei
Agora sinto as horas que passei acusando a mim mesmo
Querendo morrer

Quando eu devia apenas não pensar
Sorrir e não sofrer
O seu perdão caiu que nem esmola sobre a minha dor
Como se fosse pecado eu sonhar
Tentar outro amor

Agora eu sinto uma vergonha imensa
Não do meu pecado,
Mas do seu perdão

Maldita hora em que me humilhei, se me humilhei em vão...

O seu perdão caiu que nem esmola sobre a minha dor


Maria Bethânia

terça-feira, 21 de julho de 2009

Sem fim...

MÁGOA: S.F. desgosto, pesar, tristeza (dicionário)

Depois de terminados aqueles trabalhos braçais que de costume faço, comecei o meu caminhar pelos corredores. Naquele dia era diferente. Tomei direção diferente daquela que tomo nos outros dias, sem muita certeza se o que faria era certo. Caminhava sozinho, a tarde cinzenta se fechava sobre mim, a chuva talvez querendo me trazer algum aviso...não sei.

A dúvida persistia enquanto o corredor se ampliava diante de mim. Atrás de suas portas rostos se viam, uns conhecidos, outros anônimos, alguns reagiam à minha presença, outros nem me notavam. Caminhava sozinho enquanto as portas se mostravam como possibilidades, quase que me atraindo para algum outro destino. Diante de uma delas eu parei, e os rostos não perceberam que ali eu estava a observar, calado. A chuva caía e o sol se escondia do lado de fora, apenas a luz superficial e pálida me atingia diante daquela porta.

A porta se abriu e a realidade poradoxal e cruel se mostrou finalmente. Mas seria mesmo aquilo a realidade? Não ouso procurar saber a resposta, a dúvida que me atormentava agora se tornara medo. Ilusão e realidade agora se misturam num turbilhão perigoso prestes a me tragar numa viagem provavelmente sem volta. Mas resisti. Ali parado, a situação parece querer mostrar se é real ou não, não sei....a chuva talvez querendo me trazer algum aviso...

Comecei minha caminhada rumo à saída. Caminhava sozinho? talvez...finalmente o céu cinzento se mostrou diante de mim mais uma vez, talvez ele fosse o mais real que pude perceber naquele dia, talvez mais real que a porta que se abriu minutos antes. Se desenrolava diante de mim algo que continuava sem se definir real ou não. Paradoxal e cruel. Ao mesmo tempo, minha presença parecia não fazer muita diferença, talvez eu não faça parte disso, não sei...

Finalmente tomei o rumo que costumo tomar nos outros dias, o turbilhão se dissipou como a chuva que agora dava lugar à um sol tímido. Finalmente percebi que não mais faz dirença se era real ou não. Não mais. Quem sabe um dia eu tome um outro rumo novamente. Quem sabe o que um dia aquela porta vai me trazer? Paradoxal e cruel...

De volta aos trabalhos braçais.

P.S. Post originalmente publicado no dia 23 de abril de 2008 sob o título "Realidade?", mas que continua fazendo o maior sentido...

Pelo silêncio

Nada a dizer

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Realmente

O que realmente importa
É que você não está aqui.
O que realmente importa
É o vazio que restou em mim

O que realmente importa é que meu coração agora sangra
Mas amanhã não sangrará mais...

As feridas se fecharam
E isso é o que importa
As portas se fecharam
E isso é o que importa

O que realmente importa é que meu coração agora sangra
Mas amanhã não sangrará mais...

O que realmente importa
É aquilo que deixei de lado
Minha felicidade me chama
E isso é o que importa

O que realmente importa é que meu coração agora sangra
Mas amanhã não sangrará mais...

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Questão de momento

ei, você aí que tá lendo isso agora.

qual é o lugar que ocupo na sua vida? se é que ocupo algum lugar. O seu lugar na minha eu sei bem. Se quiser saber também, é só me perguntar.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Descobri a minha paz

Dizem por aí que podemos tirar as pessoas das nossas vidas. Pra alguns pode até ser verdade, mas pra mim não. O que faço é botá-las em seus devidos lugares.

Sentado na rua, percebi que faço diferença as vezes e as vezes não. Antes havia estado invisível em sonhos, todos passavam e não me viam. Riam de mim sem saber que eu estava ali. E eu estava. A angústia aumentou até que acordei. No fundo é esse o maior dos medos, que se materializou por alguns momentos de maneira terrível e implacável.

Sinto-me um pouco confuso ainda, mas isso passa. E passou algumas horas depois. Levantei, depois de umas tentativas frustradas de conseguir alguma companhia realmente interessante. Não me importo, melhor sozinho do que mal acompanhado.

Mas não estou sozinho. Não mesmo. Eu estou aqui, do seu lado. Ás vezes invisível e ignorado. Mas eu amo você. Esse é o lugar em que devemos estar agora.


Eu tava triste, tristinho.
Eu tava só, sozinho.
Mas ontem eu recebi um telegrama,
Era você de Aracaju ou do Alabama
Dizendo: nego, sinta-se feliz, por que no mundo tem alguém que diz
Que muito te ama.

domingo, 12 de julho de 2009

Proibida pra mim

Não posso mais viver assim,
Ao seu ladinho.
Por isso colo meu ouvido no radinho de pilha.
Pra te sintonizar.

Sozinha numa ilha.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Metáfora

No meio da noite vi o copo cheio. Não pensei duas vezes: fui lá, peguei, e bebi. Nem sei quem era o dono. Azar dele, provavelmente é um canalha que mereceu. Eu já fui o canalha que mereceu, e agora sou eu que ensino os outros, esperando que eles quebrem a cara também.

Peguei mais um copo, curtindo a música e me fazendo de desentendido. Bom demais! Todo mundo na vida aprende. E a música começou. Caras conhecidas e outras nem tanto, outras completamente estranhas, tem muita gente no mundo e isso de deixa feliz.

No dia seguinte nada dos copos. Nem sinal. Dane-se. Na rua tá cheio deles é só procurar. Eu que não fico me lamentando. É ruim, hein?

sábado, 20 de junho de 2009

Verdade

Eu sou o maior de todos os paradoxos. Sou a construção, e destruição, a bagunça e a organização.

Não é simples e nem deveria ser. Não tente entender. Nem eu consigo.

A grande verdade é que estou em perigo. Perigo de perder a minha saúde mental. Fazer perderem a saúde mental. Mas não meu amor próprio. Esse não.

Eu sou o maior de todos os paradoxos. Quem se arrisca a enfrentar?

sábado, 13 de junho de 2009

Um desabafo

Já tava de saco cheio. Acordei assim: com o coração duro feito rocha, pra não dizer cruel. Aliás, dá pra dizer sim: é cruel comigo e com quem tiver na frente. Portando, não queira estar lá pra testar. De qualquer jeito, assim estava e assim ficaria por algum tempo.

Além de verdadeiramente de saco cheio, consciente de que sem mim muita coisa não sairia do lugar. Sim, estou convencido de mim mesmo e quero que se dane quem achar ruim e muito mais quem discrda disso. Já falei pra não ficar na frente?

Então sai.

Então saí.

Cheguei. Sentei. Falei. E então ouvi. Um bom blues pra relaxar. Daqueles que deixam um sujeito em estado de contento com a própria situação, por que mostram de maneira direta, lenta e pesada essa situação. Alguma bebida. E cheguei na minha cama, pra dormir o sono dos justos injustiçados.

Acordei muito bem, obrigado.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

O sono de beleza da rainha


Em mais uma da série grandes mistérios do universo, agora eu revelo mais um grande mistério. Este foi surgido numa conversa entre amigos por um desses gramados da vida, quando alguém perguntou: formigas dormem? E cá estou eu pra responder mais esta questão. Depois de revelar o que é a baunilha, o estado físico do fogo e finalmente mostrar o que é o chester, a questão agora é se as formigas dormem.

A resposta é sim. Formigas dormem. Incrível, não? E digo mais: o padrão de sono das formigas é similar ao dos mamíferos, com cada dormida durando mais ou menos o mesmo tempo. As rainhas, por exemplo, dormem em média 9 horas por dia (conheço algumas pessoas que fazem mais que isso.) operárias dormem umas 5 horas, com vários cochilos durante o dia (também conheço pessoas que fazem isso, especialmente durante algumas aulas...).

Há indícios que, além de dormir mais ou menos o mesmo tempo que pessoas, as formigas também sonham, e também têm fase de sono profundo, quando não são acordadas muito facilmente. Essa fase de sono profundo é difícil de alcançar pelas formigas, por que elas geralmente são acordadas por outras que encostam e mexem com elas durante o sono.

Além das formigas, peixes também dormem. Alguns deles até sofrem de insônia, que é causada por um mecanismo parecido com alguns tipos de insônia humana. Essa insônia faz com que estes peixes durmam até 30% menos que os outros.

É isso, meus caros. Um dia eu volto com mais um grande mistério do universo revelado.

P.S. Dedico este post à Letícia, que sugeriu a questão.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Opressão

Depois de um hiato de quase um mês, cá estou eu de volta.

E fiquei pensando: tem coisa mais opressiva do que as roupas de baixo? Te tiram a liberdade e limitam sua movimentação. Porque nunca fizeram uma revolução contra isso? As feministas até tentaram queimando seus sutiãs...

Não adiantou. A opressão e a ditadura continuam. Subjulgam-nos a uma situação de prisão corporal de grande extensão. E aí vem a Polishop e ressucita o famigerado aspartilho sob um nome ridículo que eu não vou me lembrar agora.

- Quer perder medidas de maneira fácil e rápida?
- Quer modelar sua cintura sem esforço?

É só parar de respirar usando o espartilho ressucitado diretamente do século XVI! Que coisa de doido...O que não fazem esses "ideiais" de beleza que vendem por aí?
Eles fazem muito. Oprimem, materializados nas roupas de baixo.

Diria o mesmo daquelas calças mega-apertadas que botaram na cabeça que é da moda. E essa moda é só um pretexto pra vender mais...eu reconheço o valor artístico de algumas coisas, mas a maioria não é assim, vamos falar a verdade.

Li num livro que a liberdade tem dois lados: a autonomia e a desorientação. Vai ver as pessoas preferem ficar presas a se arriscar.

"Faça o que quiser pois é tudo da lei"
Raul Seixas

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Transeunte

Sentado estava, tentando relaxar. Merda de vida essa. Essas sombras não me deixam em paz. A solução? sei lá. O que eu faço? bebo e jogo. Depois de tudo isso aguento uma ressaca terrível e curto a minha solidão. Alguns anônimos que conheci, desses que só fazem parte da minha vida por uma noite, trazem diversão e relaxamento. Nada mais.

Ás vezes faz bem esse tipo de superficialidade. Pra que mais? acaba tudo e eu volto pra minha vida como se nada tivesse acontecido. Seria assim não fosse a maldita sombra. Tento me esquivar e dou de cara com ela...como é que pode uma coisa dessas? Merda de vida.

Começa a chuva. Tava demorando, me sinto cansado e ando. Sem grandes sentimentos, sem grandes novidades, procurando uma razão pra viver.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Homo Socyologykus



O grande objetivo da sociologia é construir uma crítica construtiva das diversas concepções da dialética limitada, ou não, baseadas na inversão epistemológica do a apriori material da ação racional com relação à fins interiorizada de maneira externa, geral e coercitiva na estrutura estruturada e estruturante do habitus do campo.

É importante lembrar que para isso é preciso indagar sobre as bases conceituais das camadas do discurso tomado como produtor de verdade na medida da concepção limitada pela incapacidade cognitiva inerente ao indivíduo dependente do fluxo temporal da performance sistematicamente desarticulada pela liquidez institucional.

Ora, se levarmos em conta que as redes que compõem os sistemas de comunicação são exteriores e interiorizadas dentro da mesma destrutura mencionada acima, temos que a orientação da conduta a ser analisada de um ponto de vista jamais totalmente e reciprocamente imparcial são determinadas de modo racional pelo observante desde que tomadas as prucauções típicas da observação parcial com vistas à produção científica das leis da física social qualitativa pregada pela teoria transcendental, racional, social e, acima de tudo, independente do modo produção organizado de maneira estratificada e precarizada típica da hiper-modernidade ideológica.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Simples e difícil

Do que você sente medo?

domingo, 12 de abril de 2009

El Lado Oscuro

Puedes que haya nascido en la cara buena del mundo
Yo nascí en la cara mala
Llevo la marca del lado oscuro

Tu habias sido sin dudarlo la mas bella
de entre todas las estrellas que yo ví en el firmamento
(El lado Oscuro, Jarabe de Palo)

Y ahora yo digo: tengo el controlo sobre mi vida, y tengo un corazón mas tranquilo. Un dia yo fue feliz y yo no pudo decir que no.

La luna brilla y yo la ví...estoy solo más una vez...

domingo, 5 de abril de 2009

O despertador tocou. Era escuro ainda. Terrível, nada pior. Levantei relutante depois de mais alguns minutos de preguiça, e me deparei com aquele que seria mais um dia no corredor.

Chegando, as portas fechadas, não mais haviam rostos inexpressivos atrás das janelas. Haviam, sim, espaços vazios que em si mesmos não têm significado algum. Pouco importa. Me virei pra dentro de mim, e em vez de encontrar mais espaços vazios, encontrei ocupação. E também calma.

O corredor desta vez parecia mais amigável do que de costume, superou aquela faceta totalitária. Mas me parecia faltar algo. O vazio até era normal, mas faltava algo. Em uma das salas, a primeira a direita, peguei a folha de papel em cima da mesa. Estava em branco. A caneta eu já tinha. Da última vez, o corredor era a materialização da incerteza, agora, era amaterialização da própria certeza. Contradição irônica.

Escrever não é algo tão difícil, se trata de liberdade. Mas a liberdade pode ser difícil. Qualquer coisa pode ser difícil, sempre há alguém para complicar cada vez mais, e a folha de papel foi a representação da simplicidade propriamente dita. A liberdade. Segui para fora do corredor, o céu se abriu cinzento. Chega.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Ciência

Tem a ver com consciência. Não necessariamente consciência da realidade. Pode ser consciência da ilusão. Ilusão da vida de si mesmo, de alguém ou de todos, porém, penso que a ilusão de si mesmo é mais comum...

O aprisionamento do pensamento tem a ver com o medo da liberdade. Medo é algo que todos temos, e o medo da liberdade vem com o medo de se largar convicções quase cegas à pontos de vista, convicções que aparecem como forma de segurança perante outros e a si mesmo. Essa segurança só é necessária a quem, de alguma forma, não tem nada além disso. É social, portanto.

Assim surgem os donos da verdade, esses que conseguem, com uma oratória exemplar e se aproveitando da ânsia por mudança dos outros, convencê-los de alguma coisa que podem até ter mais pontos ruins do que bons. Ser até prejudicial mesmo.

Aquele olhar crítico de que tanto se fala e se prega não combina com essa posição. Aquele olhar crítico só é crítico se conseguir criticar a si mesmo e essa é a verdadeira dificuldade. Quem, afinal, consegue isso? Você, caro(a) leitor(a), consegue?

terça-feira, 10 de março de 2009

Um toque

De madrugada, pra variar caminhando, estava sozinho. Mas apenas fisicamente. Com aquela sensação de auto-suficiência que dá satisfação. A rua estava vazia também.

O movimento das árvores denunciava a chegada da chuva. As sombras sibilavam projetadas no chão pelos postes mais acima. As prostitutas começavam a se esconder mais fundo nas paradas onde estavam...Não me escondi. Não tenho medo de chuva. E nem da noite.

A chuva não tardou. Caiu forte, compensando todo o calor insuportável do dia e me acordando de uma fraca sonolência...Clareou bastante meus pensamentos, que têm uma incrível tendência à obscuridade nessas horas. A vontade de dar asas ao meu alter-ego (ou eu-lírico se preferirem, o nome não faz diferença) se assentou...a solidão provoca inquietação, mas essa solidão provoca uma insônia agradável.

Finalmente cheguei, o telefone tocou...poucas vez uma voz pôde ser tão boa de escutar. Começo a me render.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Lubrificante de idéias

Nem que seja pelas palavras faladas, cantadas, e até gritadas só tento dar novos ares às coisas velhas. E às novas também. Quem entende? Alías, pra que entender? Talvez a grande graça seja justamente não entender como funciona.

Esse mundo dá voltas e nunca sabemos onde vai parar. Isso me diverte, admito. Nada pode mais chato que a imutabilidade, coisa que não existe, ainda bem. Pense comigo: quando imaginou que iria parar onde parou? foi planejado? duvido muito. Nunca vi ninguém que tivesse essa capacidade de controle sobre si mesmo e sobre as outras coisas.

De qualquer jeito, penso agora que penso diferente do que pensava antes. Muitos notaram, alguns não. Penso também que os outros também pensam diferente do que antes faziam, tudo isso graças às artimanhas da vida. Que bom. Não quero saber de gente chata mais.

"Eu vou desdizer aquilo tudo que eu lhe disse antes."

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Fênix

Destrui. Queimei e desgastei. Renasci.

Renasci das cinzas.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Na falta...

Na falta de assunto, inventamos bobagens.
Na falta de cachorro, caçamos com gato.
Na falta do que fazer, não fazemos nada.
Na falta de esperança, entramos em desespero.
Na falta de briga temos paz.
Na falta de vida, simulamos.

Simples assim.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Meras palavras

Recebi a carta no meio da tarde. Veio bem selada e tinha dizeres curtos e diretos, porém, vagos. Guardei-a na memória e logo depois a destruí, por que sabia que privacidade não era o forte daqueles que me cercavam. O dia foi passando e a ansiedade aumentando um pouco. Nada demais apenas uma vontade de saber como terminava.

Peguei o carro à noite, não tinha pra onde ir e nem com quem me encontrar. Dane-se. Sou mais feliz sozinho. A noite era quente, nem um pouco apropriada para ambientes fechados, mas foi num quarto que me instalei. Sozinho. Passei a pensar no que estaria por vir, podia ser, na verdade, três coisas: ou se resolveria pelo lado bom, ou pelo lado ruim, ou não dar em nada mesmo. Apaguei a luz e a luz da lua crescente adentrou o quarto através da janela. Fui hipnotizado até cair de vez no sono...

No dia seguinte, o telefone tocou. Atendi. Peguei o carro. Andei. Parei. Andei mais um pouco e parei por um bom tempo. Não aconteceu nada. Frustrante. De qualquer jeito, a situação não me agrava mais e já pretendia há muito mudar algumas coisas de lugar. Recolhi minhas coisas e saí porque não mais tenho paciência.

A rua estava vazia. Escura também. Já era noite de novo e agora uma lua quase cheia me atingia. Novamente andava sem rumo, caminho que me levou novamente para o mesmo quarto, novamente a mesma luz entrando pela janela, novamente sozinho e procurando uma saída realmente eficiente...o sono me pegou...de novo.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Nada se Perde

Dizem por aí que o amor acaba. Dizem, também, que amor nada mais é do que um sentimento alimentado por relações físícas, sexuais mesmo, que só pode existir se essas relações existirem. Depois disso, a relação só se mantém se houver interesses mútuos que só podem ser atendidos se a relação existir.

Tudo bobagem. Bobagem de quem não sabe o que diz ou só faz brincadeiras que outros levam a sério. Nada acaba, na verdade transforma. Transforma em coisas variadas, dependendo da situação. Pode virar ódio, amizade, admiração, raiva, um misto de tudo isso e mais alguma coisa ou simplesmente indiferença.

Talvez seja a indiferença a mais perigosa. Ela representa a mais grave forma de se acabar com alguém, que é a simples exclusão do círculo de pessoas das quais nos importamos. Criamos símbolos para representar coisas, mas estes símbolos conseguem, em alguns momentos, ficar mais fortes que as coisas em si, até porque esta morte simbólica em muito é mais eficiente até que a morte física.

É claro que nada é imutável. O que transforma também tem grande potencial de se destransformar, transfigurar naquilo que era antes, ou, numa outra hipótese, em algo parecido. Essa mudança parcial torna relações algo interessante, no mínimo curioso. Mas, definitivamente, não morre. Apenas transforma.

E no que eu me transformei? Se alguém souber, espero resposta.


"Mandei fazer de puro aço luminoso punhal
para matar o meu amor e matei."
Mutantes

sábado, 31 de janeiro de 2009

Um nível acima

- Me sinto preso. Não é algo físico, porque isso não faria sentido. Por outro lado, até me agrada a idéia, e por isso mesmo não procuro minha libertação. O grande perigo disso é que a libertação pode ser um passo doloroso e complicado, desses que um homem só dá se for forçado a isso. É nessas horas também que até o melhor dos homens se afoga em álcool na esperança de afogar as mágoas e tudo que consegue é uma noite mal dormida e uma tremenda dor de cabeça no dia seguinte...

Várias vezes me disseram: você tem meu telefone, me liga. Parece simples, não? Na verdade não. O telefone várias vezes é uma das máquinas mais difíceis já inventadas pela humanidade. A simplicidade aparece por que quem fala não é quem passa pelo momento. Seguir meu rumo é o melhor que eu posso fazer e é o que farei. Na pior das hipóteses seguirei sozinho.

E daí? Não me lembro de ter caído em nenhuma brincadeira de mal gosto armada pela vida quando tinha a total consciência de estar sozinho. Mas a prisão de que falei torna as coisas um pouco mais complicadas. Você tem meu telefone, me liga.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Lucidez

A lucidez, no fundo, não passa de um grande ponto de interrogação:

-Será que estou gordo?
-Essa calça cai bem em mim?

A dúvida, na verdade, é sintoma da lucidez. É a falta de certeza que dá o sintoma da visão clara do mundo. Afinal, o que é esse mundo? não sei e isso não vem ao caso. Já a loucura, é uma certeza quase indiscutível:

-Eu não sou gordo.
-Como não? olha só, aquele ator da tevê é mais magro que você. Você tá doido, precisa de um regime.

Tem também uma outra variação do tema:

-Eu sou Napoleão.
-É claro que não. Venha tomar seus remédios.

Gente lúcida não tem certezas. Tem dúvidas. Pontos finais seguidos são duvidosos. Não ouça quem acha que sabe. Interrogações são boas. Sim. Boas. Pontos finais ruins. E ponto.

Onde foi parar o juízo desse mundo?