sábado, 28 de novembro de 2009

Em fatias

Ato 2

Caminhava, descendo, há poucos metros do meu destino, ouvi:
- Ei! você!
Ignorei. Não deve ser comigo. E ser for, não vou parar.
- Espera! Quero falar com você!
Parei e me virei. Vinha um homem de camisa de mangas curtas, bermuda e chinelo aberto. Um pouco mais alto que eu.
- Você tem algum dinheiro? Preciso pegar um ônibus pra voltar pra casa.
- Não tenho nada...
- Sabe? Hoje quase fui atropelado na minha moto. Um maluco me fechou com o carro. Eu não sou pobre, olha só...
E tirou um celular desses modernos que tem mais funções que qualquer ser humano normal seria capaz de usar com frequência. E continuou:
- Perdi todo o meu dinheiro hoje. Minha namorada tá com a menstruação atrasada, to com medo de ela tá grávida...
- Isso seria um problema
- Claro. Aquela mulher tá me enganando. Descobri que ela tá com um cara aí. É capaz do filho nem ser meu.

A conversa se desenrolou por uns 20 ou 30 minutos mais. No fim, dei o dinheiro...
- Valeu muito, cara. você mora aqui?
- Bem ali adiante.
- Eu vou voltar aqui pra te pagar esse dinheiro amanhã mesmo.
- Não se preocupa, vai cuidar da sua moto quebrada.
- Com certeza que vou. Obrigado. A propósito, meu nome é Jean.
- De nada. E eu sou Felipe.
- Falou, Felipe, valeu.

Me virei e terminei meu caminho. Pensamentos precisam ganhar voz e vidas precisa ser ouvidas, afinal.

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