terça-feira, 8 de setembro de 2009

Alto

Me preparei durante muito tempo. Muito tempo. Me firmei finalmente, agora não existem mais pesos insuportáveis pra levar, pra me impedir, enfim. E me deu um trabalho absurdo me livrar deles...

Agora nem olho mais pra eles, eles ficaram no passado, que é o lugar deles. Minha leveza agora me acompanha e o alívio veio junto. E a hora chegou. Saí das sombras, a noite chuvosa e solitária se acaba, deixo o submundo obscuro que eu mesmo construí...

Firmei as bases, olhei pra cima. O céu me espera, afinal. Levantei vôo, suave, com calma. No início o espaço me assutou. Antes não me movia, preso. Agora tenho espaço de sobra...o que fazer?

Simples: aproveitar.

"- Bem vindo ao meu mundo, onde as pessoas não andam, flutuam!"

Passei a brincar com nuvens, a voar e ver...e lá de cima vi como somos pequenos. Vi a imensidão das coisas que não vemos quando acorrentados estamos. Tomando velocidade...lagos rios e mares...cidades. Florestas e montanhas. Simples? Não. Lindo, sim. Bastante...o espaço vazio se torna liberdade. De movimento. De pensamento. De ação. Ou simplesmente de contemplação.

Flutuando, olhei para os lados. Outros estavam lá. Não eram rostos impassíveis como aqueles do corredor...e nem distraídos no seu egoísmo como os donos dos copos...não eram a dúvida encarnada e nem eram o vazio das trevas noturnas...

Brilhavam.

- Deixei de ver vultos pra ver luzes?

Parece que sim. Flutuavam e me viam, alegres por eu estar ali. Sorriam e me convidavam para brincar com eles. Nunca havia esperimentado algo igual. É assim que se sentem as pessoas quando são amadas? deve ser...mas nunca me viram, como pode ser possível?

Percebi que isso não fazia muito sentido. A luz torna as coisas tão lindas e puras que aqueles rostos um dia sombrios agora eram claros, leves, flutuantes como eu. O vento vinha e levava minhas dúvidas, levava o que restou daquilo que eu era antes.

Brinquei por um tempo que pareceu uma eternidade. Mas eu sei que não foi muito. Mas foi a maior de todas as felicidades. Voltei para o chão, que agora brilhava com o sol lá em cima, com aquele calor aconchegante. Olhando para os lados de novo, vi aquelas pessoas que brincavam comigo. Estavam ainda do meu lado, tinham descido comigo e queriam andar do meu lado. E essa foi, sem dúvida, a maior mudança de todas.

Como é um mundo claro? Um mundo onde o ar é leve? Como....?


"Tiro do céu uma nuvem e vejo que é de algodão. E vai, sem demorar, virar chão..."

Um comentário:

Caixa de Pandora disse...

O que fazer agora?
Se permitir!