sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Presença

Ato 1

Tinha doze anos de idade. Minha família saiu de casa por algum motivo que não me lembro e eu fiquei sozinho. Terminei meus afazeres e, na minha rotina de menino, fui ver desenhos animados na televisão, no outro quarto.

Sentado, vendo tevê, ouvi o rangido de uma porta sendo fechada ou sendo aberta. Ouvi o tilintar das chaves sendo movidas. "Minha família chegou" pensei. Levantei e fui até a sala.

Não tinha ninguém e a porta seguia fechada. Voltei, sentei naquele velho sofá que nem temos mais. Ouvi passos na sala e o "bip" característico das teclas do telefone sendo tecladas. Discando um número qualquer. Fui até lá e não vi nada. Ninguém. E o telefone no gancho.

Ato 2

Estava sentado na sala de uma pessoa amiga que não mais está do meu lado. Essas coisas da vida. A pessoa estava à minha direita, no sofá, mas eu olhava para o outro lado, em direção à um filme.

Percebi que tinha chegado mais alguém na sala, por certo estava atrás do sofá à minha direita. Me virei pra ver quem era. Só vi o sofá, aquela pessoa, e a parede atrás.

Ato 3

Parei o carro na vaga e me preparei pra descer. Pelo retrovisor do meio alguém passou. Pelo outro não. Desapareceu antes que o espelho fosse capaz de captar, antes que eu pudesse ter reação.

Ato 4

Deitado em minha cama, podia ver a sala, as portas de um dos outros quartos e a porta da cozinha. Uma das luzes estava acesa, dando uma visão tranquila do ambiente, apesar de não ser total. Lá na cozinha, porém, tudo apagado e era escuro. No quarto que podia ver, estava escuro também mas podia ver o piscar da televisão ligada refletindo na porta e na parede.

Uma pessoa saiu do quarto e entrou rapidamente na cozinha.

-Alguém aí saiu do quarto?
- Não. Estamos deitados aqui vendo tevê.

Ato 5

Estava sentado na mesa da sala, lendo. Na minha frente, a janela dava visão ao quintal grande, cheio de árvores e à parte da calçada que compõe a varanda. Nessa parte da varanda, o cachorro estava deitado, tomando sol. Naquele dia estávamos em casa eu, mais uma pessoa e o cachorro (claro).

O homem saiu de trás de uma das árvores. Vestia calça e camisa sem manga azul. O cabelo era curto e a pele clara. Eu o vi de lado, lá fora, no quintal. Ele não se virou em nenhum momento, parecia ter plena consciência e segurança que nada podia notá-lo. Entrou por trás de outra árvore e sumiu.

O cachorro seguiu dormindo tranquilamente.

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